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Homilia de Dom Arnaldo Carvalheiro Neto na Missa de Abertura do Jubileu Peregrinos de Esperança 2025

Homilia de Dom Arnaldo Carvalheiro Neto na Missa de Abertura do Jubileu Peregrinos de Esperança 2025

Confira abaixo a íntegra da Homilia do Bispo Diocesano, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto na Missa de Abertura do Jubileu Peregrinos de Esperança 2025, celebrada no dia 29 de dezembro, na Catedral Nossa Senhora do Desterro, em Jundiaí.

 

Caríssimos Irmãos e Irmãs, peregrinos de esperança;

“Cantai ao Senhor um cântico novo, pois Ele faz maravilhas em nosso favor! Deus manifestou a sua justiça e salvação a nós, que somos o seu povo. Alegrai-vos, portanto, no Senhor, pois seu amor para conosco é sempre fiel. Aclamai a Deus, com cantos de júbilo e alegria! Escutai atentos o soar da trombeta que convoca toda a Igreja a viver um tempo novo, um ano de graça e salvação, um jubileu para nós, peregrinos de esperança!”.

Com essas palavras inspiradas do salmo 98, venho solenemente anunciar a abertura do ano Jubilar em nossa querida e amada Diocese de Jundiaí. Irmãos e Irmãs, este é o Jubileu, este é o tempo da esperança! Abramos as portas dos nossos corações para acolher esse novo ano, tempo oportuno de alegre conversão e renovado alento em nossa caminhada espiritual. Não permaneçamos parados, cedendo à tentação do desânimo e do pessimismo, como que desorientados pelas trevas que buscam se impor ao mundo em nossos dias. Antes, caminhemos pressurosos como Peregrinos de Esperança na luz e na paz do Senhor.

No início da sua missão, estando em dia de sábado na sinagoga de Nazaré que lhe era tão familiar, Jesus abriu o livro do Profeta Isaías e leu a seguinte agem: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos pobres. Enviou-me para anunciar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, para dar liberdade aos oprimidos, e para anunciar um ano da graça do Senhor”. Depois fechou o livro, o entregou ao ajudante e sentou-se. E todos os olhos estavam fixos nele. Jesus então disse: “Hoje se cumpriu essa agem da Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Lc 4,16-21). A partir desse momento, com seus atos, peregrinando incansavelmente de aldeia em aldeia, Jesus colocou em ação essas palavras. E ao ressuscitar dos mortos, o Senhor levou o cumprimento dessa escritura ao patamar mais elevado, para além de todas as possibilidades da nossa limitada razão humana, convergindo nossos corações para uma única esperança. Deus sempre cumpre o que promete!

A nossa esperança é a esperança da nossa salvação. Não temos outro desejo senão o de sermos transformados totalmente, da nossa condição humana ferida pelos nossos pecados, pelos nossos sofrimentos e pela nossa mortalidade, para a vida na Glória onde seremos transfigurados à imagem de Cristo (Rm 8,29), levando à plenitude a nossa condição de filhos adotivos. Pois, “quando o Senhor se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é” (1 Jo3,2). A esperança abre-nos a visão de Deus.

O peregrinar na esperança está associado à confiança da fé. Precisamos nos colocar a caminho, tomando a firme decisão de orientar os nossos os numa fé profunda, sincera e simples, vivificada por uma esperança que sabe ser possível o contato com Deus, que nos conduz à vida plena e eterna. A vida eterna, que é nossa salvação, não deve ser entendida apenas como um prolongamento da nossa vida após a morte, como um tempo suplementar. O tempo da esperança é sempre o nosso agora! Como disse o Papa Francisco: “É esta a nossa esperança. Deus é o Emanuel, é Deus conosco. (…) A esperança não está morta, a esperança está viva e envolve a nossa vida para sempre!” Inaugura-se a vida plena quando se realiza no tempo presente, o nosso encontro amoroso com Jesus, como nos lembra as palavras de São João Evangelista: “Ora, a vida eterna é que eles te conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e àquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). Portanto, a esperança encontra seu fundamento também no tempo presente. Por mais que seja difícil a nossa existência nesse mundo, o tempo em que vivemos é habitado pelas primícias de algo diferente, pelo penhor de um futuro melhor.

Os profetas, arautos e peregrinos de esperança, não pretendem anunciar um futuro sem uma conexão com o presente, antes sabem ler no presente o futuro em estado germinal. Porque a esperança que eles anunciam têm sua fonte no próprio Deus. A razão que fundamenta a esperança é a confiança absoluta no Senhor. Do mesmo modo, Jesus, enquanto anunciava a chegada do Reino, sabia que as forças do mal o levariam à morte, e que a sua missão desembocaria no insucesso aos olhos humanos. A força da esperança que sustentou os os de Jesus até o seu último instante, não proveio de um conhecimento do futuro, mas da sua relação amorosa com o Pai. O Reino é o transbordamento do amor entre o Pai e o Filho que habita em nosso coração pelo Espírito que nos foi derramado e que o mundo quer destruir, mas jamais conseguirá. O Cristo Ressuscitado dá testemunho dessa relação como um grão de trigo que cai na terra e espalha a comunhão por meio do dom do Espírito Santo. A esperança de Jesus é esperança para todos: para a humanidade, para o Pai, para a partilha do amor entre o Pai, Jesus e nós, para levar a bom termo a esperança do próprio Deus no alvorecer da criação e da história da humanidade.

Para tanto, precisamos nos colocar a caminho, como peregrinos que anseiam alcançar a meta. Somente alcança a vitória quem luta até o fim! Não basta a boa intenção; precisamos nos erguer e dar o primeiro o, sabendo de antemão o que significa a vitória e preferi-la à derrota. Deixemos para trás a preguiça e a covardia, dois dos maiores inimigos da vida espiritual. Como dizia o Monge Thomas Merton, “a preguiça e a covardia colocam o nosso próprio bem-estar em primeiro lugar, antes do amor de Deus. Temem a incerteza do futuro, porque não confiam em Deus. A preguiça procura fugir do risco. Nunca nos esqueçamos: Esperançar é arriscar-se! Peregrinar na esperança nos impele a assumir os riscos que a fé e a graça de Deus nos pedem. Se seguirmos a Cristo, cedo ou tarde temos que arriscar tudo para tudo possuir. Mas sabemos que vale a pena arriscar, porque nada há de menos seguro do que o mundo ageiro, ‘pois a figura desse mundo a’ (1 Cor 7,31). Sem coragem jamais poderemos atingir a meta que almejamos. A covardia nos mantém num espírito de ‘duplicidade’, hesitando entre Deus e o mundo. Esperançar é decidir-se. Ora, com essa hesitação, não há verdadeira fé porque nunca nos decidimos a ceder totalmente à autoridade do Deus invisível. Essa hesitação é a morte da esperança”. (Na Liberdade da Solidão, pp. 29-30).

Um peregrino experiente sabe que é preciso contar muito mais com a graça de Deus do que com suas próprias forças para caminhar até o fim. A graça é infinitamente superior ao mérito. Pois “se o Senhor não construir a nossa casa, em vão trabalharão seus construtores” (Sl 127,1). Chegado o momento desse novo Jubileu, abramos os nossos corações para fazermos juntos uma experiência viva do amor de Deus. Acorramos nesse ano da Graça às nossas igrejas jubilares para buscarmos o perdão das nossas faltas e recebermos as plenas indulgências de Deus, através da Igreja, esposa de Cristo, libertando-nos de qualquer resíduo das consequências do pecado. É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1). Despojemo-nos do cansaço e dos nossos fardos pesados acorrendo ao coração manso e humilde de Cristo Jesus Bom Pastor. Aprendamos com ele os segredos da misericórdia divina, para que sejamos misericordiosos como o nosso Pai é misericordioso.

A indulgência é, pois, uma graça jubilar que nos permite descobrir como é ilimitada a misericórdia de Deus. Não é por acaso que, na Antiguidade, o termo ‘misericórdia’ era cambiável com o de ‘indulgência’, precisamente porque pretende exprimir a plenitude do perdão de Deus que não conhece limites. A indulgência é o dom da graça, próprio e peculiar de cada Ano Santo. Todos os fieis verdadeiramente arrependidos, excluindo qualquer apego ao pecado, são chamados a serem movidos pela caridade. No decurso do Ano Santo, purificados pelo sacramento da Penitência e revigorados pela Sagrada Comunhão, devem rezar segundo as intenções do Papa. Assim, poderão obter do tesouro da Igreja, pleníssima indulgência, remissão e perdão dos seus pecados. Poderão ainda, num gesto de misericórdia, aplicar esses benefícios às almas do Purgatório sob a forma de sufrágio, seja através das sagradas peregrinações; das piedosas visitas aos lugares sagrados ou das obras de misericórdia e penitência. Essas são as igrejas jubilares de nossa Diocese que poderão ser visitadas para alcançar as indulgências: Catedral Diocesana Nossa Senhora do Desterro e Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida em Jundiaí; Santuário Nacional do Sagrado Coração de Jesus em Itu; Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Pirapora; e Matriz de Sant’Ana, em Santana do Parnaíba.

Nesta Festa da Sagrada Família, peçamos a Deus que abençoe os nossos lares, para que nossas famílias sejam revestidas de sincera misericórdia, vivendo no amor de Cristo que é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo habite com toda a sua riqueza em nossas casas. À exemplo de Maria, guardemos os tesouros da graça divina em nossos corações, conservando-os puros e sem máculas. E que o menino Jesus nos ensine a crescer sempre na sabedoria, na estatura do amor divino e na graça da comunhão de Deus Uno e Trino, Aquele que é, que era e que vem, pelos séculos dos séculos. Amém!

 

 

 

 

 

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